quarta-feira, 23 de maio de 2012

Gêneros


TEXTO NARRATIVO


Uma aula alegre e diferente

No dia 27-05-2011, tivemos uma aula diferente. Inicialmente foi explicado sobre o que seria feito durante os dois horários.
            O aluno Lucas foi escolhido para fotografar os trabalhos. Em seguida, sortearam-se as duplas de alunos. Um escreveria, o outro apenas acompanharia as anotações.
            Fora da escola, na Rua das Camélias, verificávamos tudo por ali. Pessoas caminhavam para o trabalho, faziam caminhada, falavam ao celular, passeavam com cachorros... Carros, motos, bicicletas e até a cavalos dificultavam nossa aula. Víamos o centro da cidade, hospital, escolas, o Cruzeiro Luminoso e outras belezas de Diamantina.
            As ruas até estavam limpas, mas, em alguns lugares: lixo no chão, lixeiras transbordando, mato, entulho... Após um esgoto fétido e cheio de lixo, chegamos à pracinha. Grande movimento: mais carros, caminhões e motos.
            Várias pessoas movimentavam o lugar: policiais, garis, lavadeira de roupas, universitários esperavam ônibus ou mesmo uma carona. Ao redor, avistávamos estabelecimentos comerciais, a Serra do Barão...
            Voltando à escola, passamos pela turma da Terceira Idade em caminhada, alguns animais, fumaça de caminhões...
            Já na sala de aula, preparávamos para a produção deste texto.


Texto Coletivo - (7º Ano “A” - 2011)
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TIPOS TEXTUAIS
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Os Tipos Textuais designam uma sequência definida pela natureza linguística de sua composição. São observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Quanto ao tipo o texto pode ser: Narração, Descrição, Argumentação, Injunção, Exposição.
GÊNEROS TEXTUAIS
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Gêneros Textuais são os textos materializados encontrados em nosso cotidiano. Esses apresentam características sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função, composição, conteúdo e canal. Exemplos de Gêneros textuais:
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Carta, Bilhete, Ata, Procuração, Ofício, memorando, currículo, Abaixo-assinado, Diário, Agenda, Anotações, Romance, Crônica, Conto, Novela, Poema, Memórias, Biografia, Autobiografia, Artigo de Opinião, Resenha, Reportagem, Aula expositiva, Reunião de condomínio, debate, Entrevista, Lista de compras, Piada, Sermão, Cardápio, Receita, Horóscopo, Instruções de uso, Inquérito policial, Telefonema, Blog, E-mail, Bate-papo (Chat), Orkut, Twitter, Vídeo-conferência, Second Life (Realidade virtual), Fórum, etc.

GÊNEROS TEXTUAIS - I

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OFÍCIO - Tipo de correspondência externa usada especialmente quando o destinatário é órgão público. Ele serve para "informar, encaminhar documentos ...
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MEMORANDO - Correspondência interna de uma empresa feita entre os departamentos ou seções.
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CURRUCULUM VITAE - (do Latim - trajetória de vida), ou apenas currículo é um documento de tipo histórico, que relata a trajetória educacional e/ou acadêmica e as experiências profissionais de uma pessoa, como forma de demonstrar suas habilidades e competências. De um modo geral o Curriculum Vitae tem como objetivo fornecer o perfil da pessoa para um empregador, podendo também ser usado como instrumento de apoio em situações acadêmicas. Ele é uma síntese de qualificações e aptidões, na qual o candidato a alguma vaga de emprego descreve as experiências profissionais, formação acadêmica, e dados pessoais para contato.
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ATA - Registro dos principais pontos discutidos em uma reunião.
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CARTA - Objeto de correspondência, sob a forma de comunicação escrita, de natureza administrativa, social, comercial, ...
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BILHETE – Objeto curto de correspondência, sob a forma de comunicação escrita.
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CARTA DO LEITOR - Texto em que o leitor de jornal ou da revista manifesta seu ponto de vista sobre um determinado assunto da atualidade, usando elementos argumentativos.
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GÊNEROS TEXTUAIS - II

 



NOTÍCIA - Relato de fatos ou acontecimentos atuais, geralmente de importância e interesse para a comunidade, sem comentários pessoais, opiniões ou interpretações por parte de quem escreve. Os títulos são chamativos (manchetes) para atrair a atenção de quem lê. No início do texto, frequentemente, aparece um pequeno resumo com as informações essenciais do fato noticiado (lide).

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REPORTAGEM - Relato de fatos de interesse do público, com acréscimo de entrevistas e comentários para que se possa ter uma visão mais ampla do assunto tratado. Nesse tipo de texto, podem ocorrer interpretações e opiniões acerca do fato relatado, baseadas em estatísticas, depoimentos e comparações com acontecimentos relacionados ao assunto tratado.
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ENTREVISTA - Forma objetiva de registrar um depoimento de uma pessoa pública ou que esteja relacionada a algum acontecimento atual. É utilizada para dar veracidade a uma reportagem ou para saciar a curiosidade dos leitores sobre aspectos da vida profissional ou pessoal do entrevistado. Para tanto, é organizada na forma de perguntas e respostas.
.EDITORIAL - Texto de caráter opinativo, escrito de maneira impessoal e publicado sem assinatura. Possui estrutura semelhante à de um texto dissertativo, de intenção persuasiva. Nele os editores do veículo expressam, formalmente, sua opinião acerca dos mais diversos assuntos, principalmente, os mais polêmicos e atuais. Ele representa a opinião do veículo onde foi publicado.
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ARTIGO DE OPINIÃO - Texto de caráter opinativo. Porém, ao invés de representar a opinião do veículo em que está sendo divulgado, tem caráter pessoal. Logo, deve vir assinado pelo autor, que se responsabiliza pelo conteúdo, ou seja, pelas opiniões apresentadas.
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ROMANCE - Gênero da Literatura, herdeiro da epopéia. É tipicamente um gênero do modo narrativo como a novela e o conto.

CRÔNICA - Texto que aborda assuntos e acontecimentos do dia-a-dia, apreendidos pela sensibilidade do cronista e desenvolvidos de forma pessoal por ele. Geralmente, contém ironia e humor, já que seu objetivo principal é fazer uma crítica social ou política.

RESENHA CRÍTICA - Texto que apresenta o conteúdo de uma obra. Indica-se a forma de abordagem do autor a respeito do tema e da teoria utilizada. É uma análise crítica, pois encerra um conceito de valor emitido pelo resenhista sobre a obra em questão. Pode-se fazer uma resenha crítica sobre um livro, um show, um espetáculo teatral, entre outros.

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - Gênero textual informativo com vocabulário preciso, frases curtas, ou seja, objetivo. Tem por finalidade divulgar para o grande público as descobertas mais recentes no campo das ciências em geral.
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INQUÉRITO POLICIAL – Texto de instrução provisória, preparatória, destinada a reunir os elementos necessários (provas) à apuração da prática de uma infração penal e sua autoria. É o instrumento formal de investigações, compreendendo o conjunto de diligências realizadas por agentes da autoridade policial e também por ela mesma (delegado de polícia) para apurar o fato criminoso e descobrir sua autoria.

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GÊNEROS TEXTUAIS - III

 
TWITTER - Rede social para comunicação que permite aos usuários que enviem e recebam atualizações pessoais de outros contatos (em textos de até 140 caracteres através do website do serviço, por SMS e por softwares específicos de gerenciamento.
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VIDEOCONFERÊNCIA –Discussão em grupo ou pessoa-a-pessoa na qual os participantes estão em locais diferentes, mas podem ver e ouvir uns aos outros como se estivessem reunidos em um único local.


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BLOG - Uma abreviação de weblog, qualquer registro frequente de informações publicado na internet.
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A maioria das pessoas tem utilizado os blogs como diários pessoais, porém um blog pode ter qualquer tipo de conteúdo e ser utilizado para diversos fins. Uma das vantagens das ferramentas de blog é permitir que os usuários publiquem seu conteúdo sem a necessidade de saber como são construídas páginas na internet, ou seja, sem conhecimento técnico especializado.
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ORKUT - Rede social filiada ao Google, criada com o objetivo de ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter contato entre elas.
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19/04/10


10/04/10

Retrato

.....................Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo.
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Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
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Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?.
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Se eu morresse amanhã

.....................Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã! 
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Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã! 
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Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
 
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
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O Lutador

............Carlos Drummond de Andrade
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Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco. 
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.
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AH! OS RELÓGIOS

........................Mario Quintana 
.Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vida
sem seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios... 
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Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
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Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção..
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E os Anjos entreolham-se espantados
.quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são....
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Autopsicografia

...........Fernando Pessoa
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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
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E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
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E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
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SE EU MORRER...

  ......................Geraldo Canuto
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Ah! Se eu morrer um dia...
Não será uma causa perdida
Jamais por doença, acidente ou tristeza
Acaso ou motivo fútil qualquer.
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Se eu deixar meu Templo Sagrado,
Lembrarei de todos os tempos
Firmarei um vínculo com tudo
Serei vulto a vagar pelos ares. 


Se impuserem a minha partida,
E cobrirem meus sonhos perdidos
Agora... hoje... amanhã não será
Só depois de todos sumirem.
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Se chamarem para novo caminho, 
E criarem outro Campo Florido
Partirei, sem vontade é claro
Buscarei integrar-me ao nada.
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Se houver esse mundo melhor,
Não vou por destino buscá-lo.
Falo, grito, imploro e ordeno
Se eu morrer... será para a vida.
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Lira dos 20 anos

................. Álvares de azevedo

Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida Ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
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Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas
Calor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome nos lábios meus suspiram
Um nome de mulher... e vejo lânguida 
.No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mm, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
.Passar delicioso... que delírios!
Acordo palpitante... Ainda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo
Imploro uma ilusão, tudo é silêncio!
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Só o leito deserto, a sala muda! 

Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?
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CANÇÃO DO EXÍLIO

............................. Gonçalves Dias
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Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
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Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
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Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Coimbra - julho 1843.
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O Amor

...................Fernando Pessoa
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O amor, quando se revela, 

Não se sabe revelar.  
Sabe bem olhar p'ra ela, 
Mas não lhe sabe falar..
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer.
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!.
 

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!.
Mas se isto puder contar-lhe 
O que não lhe ouso contar,
 

Já não terei que falar-lhe 
Porque lhe estou a falar... 
..
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Meus oito anos

....................Casimiro de Abreu
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Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
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Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
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Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
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Amor Bastante

.................Paulo Leminsk.
quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse de dentro  
de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
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basta um instante
e você tem amor bastante
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um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
.
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Canção do exílio

............... Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosasmas custam cem mil réis a dúzia. 
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Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
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MULHER TOTAL

.................Geraldo Canuto

Deve ser linda pro olhos meus.
Cor não importa, tamanho e sonhos
Olhos risonhos ou caminhar.
Só o pensamento travesso e puro
Com muito orgulho precisa ter
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Cabelos curtos ou mesmo longos em caracóis
Irradiando... sempre o frescor da manhã
Intenso cheiro natural da vida
Jamais sofrida. Um mundo bom
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Olhos meigos e frios, de modo algum
Fúria no brilho, felino e sóbrio
Não de Capitu (é querer muito), 
Mas com malícia mui feminina
Necessário pra se viver.
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Sedosos lábios dirão palavras
Amor e ódio, sim e não.
Nada vazio, embora pensem:
Seu mundo é pouco e todo em vão.
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Pela vida afora não caminha apenas
Flutua leve no imaginário campo
Seus macios pés, ornamentando
Assim o tempo, fugindo ao vento
Mas sempre só.
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Seios perfeitos, volúpia imensa
Tamanho e forma existe não.
Assim desponta magia o mundo
Calor sensível provoca sempre
Desejo ardente pro anoitecer.
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Um ventre lindo contando histórias 
Muita memória em melodia
Tocando o tempo
Muita pureza, certeza e luz
Trouxe ao vento o amanhecer.
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Sem palavra alguma já me diz tudo
Por alvas pérolas iluminando o corpo
Lindo e faceiro tornando o cheiro
De amar a vida, eterna e sempre
A todo dia, num grande amor ..
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27/03/10

MEMÓRIAS

  Memórias são textos produzidos para rememorar o passado, vivido ou imaginado. Para isso devem-se escolher cuidadosamente as palavras, orientados por critérios estéticos que atribuem ao texto ritmo e conduzem o leitor por cenários e situações reais ou imaginárias. Essas narrativas têm como ponto de partida experiências vividas pelo autor no passado, contadas como são lembradas no presente. Há situações em que a memória se apresenta por meio de perguntas que fazemos ou que fazem para nós. Em outras, a memória é despertada por uma imagem, um cheiro, um som.
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Esse tipo de narrativa aproxima os ausentes, compreende o passado, conhece outros modos de viver, outros jeitos de falar, outras formas de se comportar e representa possibilidades de entrelaçar novas vidas com as heranças deixadas pelas gerações anteriores. As histórias passadas podem unir moradores de um mesmo lugar e fazer que cada um sinta-se parte de uma mesma comunidade. Isso porque a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social ao qual pertence. Esse encontro é uma experiência humanizadora.
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O autor de memórias literárias usa os verbos para marcar um tempo do passado: pretérito perfeito e pretérito imperfeito. Eles indicam ações e têm a propriedade de localizar o fato no tempo, em relação ao momento em que se fala.
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O narrador em primeira pessoa é o narrador-personagem ou narrador-testemunha. No caso de memórias teremos, geralmente, o narrador-personagem, que tem por característica se apresentar e se manifestar como eu e fala a respeito daquilo que viveu. Conta a história dele sempre de forma parcial, considerando um único ponto de vista: o dele.
..................................Geraldo Canuto..

Memória de Livros

(João Ubaldo Ribeiro)
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Aracaju, a cidade onde nós morávamos no fim da década de 40, começo da de 50, era a orgulhosa capital de Sergipe, o menor Estado brasileiro (mais ou menos do tamanho da Suíça). Essa distinção, contudo, não lhe tirava o caráter de cidade pequena, provinciana e calma, à boca de um rio e a pouca distância de praias muito bonitas. Sabíamos do mundo pelo rádio, pelos cinejornais que acompanhavam todos os filmes e pelas revistas nacionais. A televisão era tida por muitos como mentira de viajantes, só alguns loucos andavam de avião, comprávamos galinhas vivas e verduras trazidas à nossa porta nas costas de mulas, tínhamos grandes quintais e jardins, meninos não discutiam com adultos, mulheres não usavam calças compridas nem dirigiam automóveis e vivíamos tão longe de tudo que se dizia que, quando o mundo acabasse, só íamos saber uns cinco dias depois.
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Mas vivíamos bem. Morávamos sempre em casarões enormes, de grandes portas, varandas e tetos altíssimos, e meu pai, que sempre gostou das últimas novidades tecnológicas, trazia para casa tudo quanto era tipo de geringonça moderna que aparecia. Fomos a primeira família da vizinhança a ter uma  geladeira e recebemos visitas para examinar o impressionante armário branco que esfriava tudo. Quando surgiram os primeiros discos long play, já tínhamos a vitrola apropriada e meu pai comprava montanhas de gravações dos clássicos, que ele próprio se recusava a ouvir, mas nos obrigava a escutar e comentar.

Nada, porém, era como os livros. Toda a família sempre foi obsedada por livros e às vezes ainda arma brigas ferozes por causa de livros, entre acusações mútuas de furto ou apropriação indébita. Meu avô furtava livros de meu pai, meu pai furtava livros de meu avô, eu furtava livros de meu pai e minha irmã até hoje furta livros de todos nós. A maior casa onde moramos, mais ou menos a partir da época em que aprendi a ler, tinha uma sala reservada para a biblioteca e gabinete de meu pai, mas os livros não cabiam nela – na verdade, mal cabiam na casa. E, embora os interesses básicos dele fossem Direito e História, os livros eram sobre todos os assuntos e de todos os tipos. Até mesmo ciências ocultas, assunto que fascinava meu pai e fazia com que ele às vezes se trancasse na companhia de uns desenhos esotéricos, para depois sair e dirigir olhares magnéticos aos circunstantes, só que ninguém ligava e ele desistia temporariamente. Havia uns livros sobre hipnotismo e, depois de ler um deles, hipnotizei um peru que nos tinha sido dado para um Natal e, que, como jamais ninguém lembrou de assá-lo, passou a residir no quintal e, não sei por quê, era conhecido como Lúcio. Minha mãe se impressionou, porque, assim que comecei meus passes hipnóticos, Lúcio estacou, pareceu engolir em seco e ficou paralisado, mas meu pai – talvez porque ele próprio nunca tenha conseguido hipnotizar nada, apesar de inúmeras tentativas – declarou que aquilo não tinha nada com hipnotismo, era porque Lúcio era na verdade uma perua e tinha pensado que eu era o peru.
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Não sei bem dizer como aprendi a ler. A circulação entre os livros era livre (tinha que ser, pensando bem, porque eles estavam pela casa toda, inclusive na cozinha e no banheiro), de maneira que eu convivia com eles todas as horas do dia, a ponto de passar tempos enormes com um deles aberto no colo, fingindo que estava lendo e, na verdade, se não me trai a vã memória, de certa forma lendo, porque quando havia figuras, eu inventava as histórias que elas ilustravam e, ao olhar para as letras, tinha a sensação de que entendia nelas o que inventara. Segundo a crônica familiar, meu pai interpretava aquilo como uma grande sede de saber cruelmente insatisfeita e queria que eu aprendesse a ler já aos quatro anos, sendo demovido a muito custo, por uma pedagoga amiga nossa. Mas, depois que completei seis anos, ele não agüentou, fez um discurso dizendo que eu já conhecia todas as letras e agora era só uma questão de juntá-las e, além de tudo, ele não suportava mais ter um filho analfabeto. Em seguida, mandou que eu vestisse uma roupa de sair, foi comigo a uma livraria, comprou uma cartilha, uma tabuada e um caderno e me levou à casa de D. Gilete. 
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– D. Gilete – disse ele, apresentando-me a senhora de cabelos presos na nuca, óculos redondos e ar severo –, este rapaz já está um homem e ainda não sabe ler. Aplique as regras. "Aplicar as regras", soube eu muito depois com um susto retardado, significava, entre outras coisas, usar a palmatória para vencer qualquer manifestação de falta de empenho ou burrice por parte do aluno. Felizmente D. Gilete nunca precisou me aplicar as regras, mesmo porque eu de fato já conhecia a maior parte das letras e juntá-las me pareceu facílimo, de maneira que, quando voltei para casa nesse mesmo dia, já estava começando a poder ler. Fui a uma das estantes do corredor para selecionar um daqueles livrões com retratos de homens carrancudos e cenas de batalhas, mas meu pai apareceu subitamente à porta do gabinete, carregando uma pilha de mais de vinte livros infantis.
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– Esses daí agora não – disse ele. – Primeiro estes, para treinar. Estas livrarias daqui são uma porcaria, só achei estes. Mas já encomendei mais, esses daí devem durar uns dias.
Duraram bem pouco, sim, porque de repente o mundo mudou e aquelas paredes cobertas de livros começaram a se tornar vivas, freqüentadas por um número estonteante de maravilhas, escritas de todos os jeitos e capazes de me transportar a todos os cantos do mundo e a todos os tipos de vida possíveis. Um pouco febril às vezes, chegava a ler dois ou três livros num só dia, sem querer dormir e sem querer comer porque não me deixavam ler à mesa – e, pela primeira vez em muitas, minha mãe disse a meu pai que eu estava maluco, preocupação que até hoje volta e meia ela manifesta.
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– Meu filho está doido -- disse ela, de noite, na varanda, sem saber que eu estava escutando.
– Ele não larga os livros. Hoje ele estava abrindo os livros daquela estante que vai cair para cheirar. – Que é que tem isso? É normal, eu também cheiro muito os livros daquela estante. São livros velhos, alguns têm um cheiro ótimo.
– Ontem ele passou a tarde inteira lendo um dicionário.
– Normalíssimo. Eu também leio dicionários, distrai muito. Que dicionário ele estava lendo? – O Lello.
–Ah, isso é que não pode. Ele tem que ler o Laudelino Freire, que é muito melhor. Eu vou ter uma conversa com esse rapaz, ele não entende nada de dicionários. Ele está cheirando os livros certos, mas lendo o dicionário errado, precisa de orientação.
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Sim, tínhamos mu itas conversas sobre livros. Durante toda a minha infância, havia dois tipos básicos de leitura lá em casa: a compulsória e a livre, esta última dividida em dois subtipos -- a livre propriamente dita e a incerta. A compulsória variava conforme a disposição de meu pai. Havia a leitura em voz alta de poemas, trechos de peças de teatro e discursos clássicos, em que nossa dicção e entonação eram invariavelmente descritas como o pior desgosto que ele tinha na vida. Líamos Homero, Camões, Horácio, Jorge de Lima, Sófocles, Shakespeare, Euclides da Cunha, dezenas de outros. Muitas vezes não entendíamos nada do que líamos, mas gostávamos daquelas palavras sonoras, daqueles conflitos estranhos entre gente de nomes exóticos, e da expressão comovida de minha mãe, com pena de Antígona e torcendo por Heitor na Ilíada. Depois de cada leitura, meu pai fazia sua palestra de rotina sobre nossa ignorância e, andando para cima e para baixo de pijama na varanda, dava uma aula grandiloqüente sobre o assunto da leitura, ou sobre o autor do texto, aula esta a que os vizinhos muitas vezes vinham assistir. Também tínhamos os resumos – escritos ou orais – das leituras, as cópias (começadas quando ele, com grande escândalo, descobriu que eu não entendia direito o ponto-e-vírgula e me obrigou a copiar sermões do Padre Antônio Vieira, para aprender a usar o ponto-e-vírgula) e os trechos a decorar. No que certamente é um mistério para os psicanalistas, até hoje não só os sermões de Vieira como muitos desses autores forçados pela goela abaixo estão entre minhas leituras favoritas. (Em compensação, continuo ruim de ponto-e-vírgula).
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Mas o bom mesmo era a leitura livre, inclusive porque oferecia seus perigos. Meu pai usava uma técnica maquiavélica para me convencer a me interessar por certas leituras. A circulação entre os livros permanecia absolutamente livre, mas, de vez em quando, ele brandia um volume no ar e anunciava com veemência:
– Este não pode! Este está proibido! Arranco as orelhas do primeiro que chegar perto deste daqui! O problema era que não só ele deixava o livro proibido bem à vista, no mesmo lugar de onde o tirara subitamente, como às vezes a proibição era para valer. A incerteza era inevitável e então tínhamos momentos de suspense arrasador (meu pai nunca arrancou as orelhas de ninguém, mas todo mundo achava que, se fosse por uma questão de princípios, ele arrancaria), nos quais lemos Nossa vida sexual do Dr. Fritz Kahn, Romeu e Julieta; O Livro de San Michele, Crônica Escandalosa dos Doze Césares, Salambô, O Crime do Padre Amaro – enfim, dezenas de títulos de uma coleção estapafúrdia, cujo único ponto em comum era o medo de passarmos o resto da vida sem orelhas – e hoje penso que li tudo o que ele queria disfarçadamente que eu lesse, embora à custa de sobressaltos e suores frios.
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Na área proibida, não pode deixar de ser feita uma menção aos pais de meu pai, meus avós João e Amália. João era português, leitor anticlerical de Guerra Junqueiro e não levava o filho muito a sério intelectualmente, porque os livros que meu pai escrevia eram finos e não ficavam em pé sozinhos. "Isto é uma merda", dizia ele, sopesando com desdém uma das monografias jurídicas de meu pai. "Estas tripinhas que não se sustentam em pé não são livros, são uns folhetos". Já minha avó tinha mais respeito pela produção de meu pai, mas achava que, de tanto estudar altas ciências, ele havia ficado um pouco abobalhado, não entendia nada da vida. Isto foi muito bom para a expansão dos meus horizontes culturais, porque ela não só lia como deixava que eu lesse tudo o que ele não deixava, inclusive revistas policiais oficialmente proibidas para menores. Nas férias escolares, ela ia me buscar para que eu as passasse com ela, e meu pai ficava preocupado.
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– D. Amália -- dizia ele, tratando-a com cerimônia na esperança de que ela se imbuísse da necessidade de atendê-lo – , o menino vai com a senhora, mas sob uma condição. A senhora não vai deixar que ele fique o dia inteiro deitado , cercado de bolachinhas e docinhos e lendo essas coisas que a senhora lê.
– Senhor doutor – respondia minha avó – , sou avó deste menino e tua mãe. Se te criei mal, Deus me perdoe, foi a inexperiência da juventude. Mas este cá ainda pode ser salvo e não vou deixar que tuas maluquices o infelicitem. Levo o menino sem condição nenhuma e, se insistes, digo-te muito bem o que podes fazer com tuas condições e vê lá se não me respondes, que hoje acordei com a ciática e não vejo a hora de deitar a sombrinha ao lombo de um que se atreva a chatear-me. Passar bem, Senhor doutor.
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E assim eu ia para a casa de minha avó Amália, onde ela comentava mais uma vez com meu avô como o filho estudara demais e ficara abastalhado para a vida, e meu avô, que queria que ela saísse para poder beber em paz a cerveja que o médico proibira, tirava um bolo de dinheiro do bolso e nos mandava comprar umas coisitas de ler -- Amália tinha razão, se o menino queria ler que lesse, não havia mal nas leituras, havia em certos leitores. E então saíamos gloriosamente, minha avó e eu, para a maior banca de revistas da cidade, que ficava num parque perto da casa dela e cujo dono já estava acostumado àquela dupla excêntrica. Nós íamos chegando e ele perguntava:
– Uma de cada?
– Uma de cada – confirmava minha avó, passando a superintender, com os olhos brilhando, a colheita de um exemplar de cada revista, proibida ou não-proibida, que ia formar uma montanha colorida deslumbrante, num carrinho de mão que talvez o homem tivesse comprado para atender a fregueses como nós. – Mande levar. E agora aos livros!
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Depois da banca, naturalmente, vinham os livros. Ela acompanhava certas coleções, histórias de "Raffles, Arsène Lupin", Ponson du Terrail, Sir Walter Scott, Edgar Wallace, Michel Zevaco, Emilio Salgari, os Dumas e mais uma porção de outros, em edições de sobrecapas extravagantemente coloridas que me deixavam quase sem fôlego. Na livraria, ela não só se servia dos últimos lançamentos de seus favoritos, como se dirigia imperiosamente à seção de literatura para jovens e escolhia livros para mim, geralmente sem ouvir minha opinião – e foi assim que li Karl May, Edgar Rice Burroughs, Robert Louis Stevenson, Swift e tantos mais, num sofá enorme, soterrado por revistas, livros e latas de docinhos e bolachinhas, sem querer fazer mais nada, absolutamente nada, neste mundo encantado. De vez em quando, minha avó e eu mantínhamos tertúlias literárias na sala, comentando nossos vilões favoritos e nosso herói predileto, o Conde de Monte Cristo – Edmond Dantès! – como dizia ela, fremind o num gesto dramático. E meu avô, bebendo a cerveja escondido lá dentro, dizia "ai, ai, esses dois se acham letrados, mas nunca leram o Guerra Junqueiro".
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De volta à casa de meus pais, depois das férias, o problema das leituras compulsórias às vezes se agravava, porque meu pai, na certeza (embora nunca desse ousadia de me perguntar), de que minha avó me tinha dado para ler tudo o que ele proibia, entrava numa programação delirante, destinada a limpar os efeitos deletérios das revistas policiais. Sei que parece mentira e não me aborreço com quem não acreditar (quem conheceu meu pai acredita), mas a verdade é que, aos doze anos, eu já tinha lido, com efeitos às vezes surpreendentes, a maior parte da obra traduzida de Shakespeare, O elogio da loucura, As décadas de Tito Lívio, D. Quixote (uma das ilustrações de Gustave Doré, mostrando monstros e personagens saindo dos livros de cavalaria do fidalgo, me fez mal, porque eu passei a ver as mesmas coisas saindo dos livros da casa), adaptações especiais do Fausto e da Divina Comédia, a Ilíada, a Odisséia, vários ensaios de Montaigne, Poe, Alexandre Herculano, José de Alencar, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Dickens, Dostoievski, Suetônio, os Exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola e mais não sei quantos outros clássicos, muitos deles resumidos, discutidos ou simplesmente lembrados em conversas inflamadas, dos quais nunca me esqueço e a maior parte dos quais faz parte íntima de minha vida.
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Fico pensando nisso e me pergunto: não estou imaginando coisas, tudo isso poderia ter realmente acontecido? Acho que sim, também joguei bola, tomei banho nu no rio, subi em árvores e acreditei em Papai Noel. Os livros eram uma brincadeira como outra qualquer, embora certamente a melhor de todas. Quando tenho saudades da infância, as saudades são daquele universo que nunca volta, dos meus olhos de criança vendo tanto que entonteciam, dos cheiros dos livros velhos, da navegação infinita pela palavra, de meu pai, de meus avós, do velho casarão mágico de Aracaju.
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O tempo era outro...

Eu, igual as demais meninas de meu tempo, brincávamos de boneca, passa-anel, de roda e de outras brincadeiras. Ingênuas e simples. A igreja fazia parte de nossas vidas, encontro de todos. Namorar? Só quando já tivesse idade. Meus pais, muito severos. Não podiam soltar as rédeas – diziam eles. Qualquer deslize, vinha o castigo. E ficar o dia inteirinho sentada no quintal ou até à ordem de minha mãe... Nada fácil.
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Mais tarde começaram os namoricos. Escondido é claro. Do tipo chocar jacaré. Só de
 longe mesmo. Às vezes, no escurinho do cinema, os mais afoitos pegavam na mão da namorada. Ah! O “fut” no Largo Dom João... Música tocando, as meninas desfilavam pra lá pra cá. Os rapazes observavam. Vez por outra, eles ofereciam uma canção pra sua pretendida. Todos ouviam ali no auto-falante público da cidade. E as barraquinhas! Pão de Santo Antônio, Bom Jesus, Consolação... Que maravilha!
.As ruas, uma terra vermelha que só vendo. Só no centrinho as cabeça-de-macaco cobriam aquela poeira. Esse calçamento rude dificultava os passos de alguns saltinhos finos, cambaleantes. Diamantina se transformou. E perdeu muito também. Hoje não tem mais o Teatro Santa Isabel, os dois cinemas, os bons educandários: Colégio Nossa senhora das Dores – internato só pra meninas e Colégio Diamantinense – internato só pra rapazes. Misturar não podia, lógico. Desapareceram ainda importantes meios de sobrevivência. Foram-se as fábricas: de balas, de torta, de macarrão, de tecidos em Biribiri... Na fumaça dos anos sumiu até o trem-de-ferro, transporte lento e sofrido, mas uma delícia.
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Como mudou o clima da cidade! Naquele tempo as chuvas vinham na época certa. Até o avião, vez por outra, atolava no barro vermelho. Tivemos uma linha regular de avião. E o frio? Intenso e contínuo. Necessário blusas, casacos e as meias até o joelho.
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Mas tudo foi acabando. De casa em casa vinham o padeiro... o leiteiro... Aquele pão quentinho... leite da hora... nada disso existe mais. Lembro-me muito bem ainda das lavadeiras... Trouxas iam e vinham da Água Limpa. O ganha-pão de muitas mulheres. É... Roupas lavadas na fonte... A água já foi realmente limpa.
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Minha mãe, uma professora de verdade. A “minha mestra”, como a chamavam, na escolinha de turma multisseriada, se desdobrava pelas crianças. Dela herdei minha vocação para o magistério. Por isso me dedico de corpo e alma na sala de aula. Quando eu não der mais conta de ensinar, tenho que sair fora. Assim penso.
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Esse é um pedacinho de minha existência. Sou Margarida Ferreira Libório. Vivo em Diamantina há muitos anos. Hoje vejo minha vida inteira como uma vitória. Os prêmios? A saúde, minha família e principalmente minha filha, maior acontecimento de minha história. 


( Geraldo Canuto).
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Minha vida de menina

Quarta-feira, 28 de  agosto [de 1895]. Faço hoje quinze anos. Que aniversário triste! Vovó chamou-me cedo, ansiada como está, coitadinha, e deu-me um vestido. Beijou-me e disse: “Sei que você vai ser sempre feliz, minha filhinha, e que nunca se esquecerá de sua avozinha que lhe quer tanto”. As lágrimas lhe correram pelo rosto abaixo e eu larguei dos braços dela e vim desengasgar-me aqui no meu quarto, chorando escondida. Como eu sofro de ver que mesmo na cama, penando como está, vovó não se esquece de mim e de meus deveres e que eu não fui o que devia ter sido para ela. Mas juro por tudo aqui nesta hora que vovó melhorando eu serei um anjo para ela e me dedicarei a esta avozinha tão boa que me quer tanto. Vou agora entrar no quarto para vê-la e já sei o que ela vai me dizer: “Já estudou suas lições? Então vá se deitar, mas procure antes alguma coisa para comer. Vá com Deus”.
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..................................(Helena Morley)

NOITE NA PRAIA

 Estamos no Verão, é tempo de calor, praia e mar... Vem-me à memória o tempo de férias e de viagens...
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O meu pensamento remete-me para a viagem que fiz a S. Salvador da Bahia, a qual me marcou pela positiva e recordo com saudade uma noite de luar, onde o mar que era azul ficou cor de prata, a lu
 z da praia ficou diferente, mas de uma beleza única.
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Eu e os meus companheiros de viagem todos vestidos de fatos brancos, ao bom estilo baiano, os quais se confundiam com a luz da Lua.
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Fomos para a praia dançar, dentro do espírito baiano, descalços e ao som da música e dos tambores, não era permitido olhar para os pés das baianas durante o ritual da dança. Após a dança aos pares, dirigimo-nos à água do mar, onde uma baiana trazia inúmeras rosas, as quais começou a distribuir individualmente.
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Fazia parte da tradição pedir um desejo à Deusa desse Mar Iemanjá, feito esse pedido, lançámos as flores à àgua do Mar. Naquele instante, o Mar parecia um jardim pois tantas eram as flores que boiavam sobre a água! Hoje, recordo esse momento com saudade ,do outro lado do Atlântico em Terras de Vera Cruz...
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Ficou-me a saudade para um dia lá voltar!...
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CRÔNICAS


A crônica

Crônica, do grego chrónos, tempo, cronicar, feito Tácito, relatar o tempo ou tempos. Por que nós, brasileiros, fizemos do gênero especialidade da casa — feito muqueca de peixe ou tutu à mineira? Eu, pela parte que me cabe — e é pouquíssima a parte que me cabe —, eu tenho minhas teoriazinhas. Primeiro lugar, porque nós trabalhamos bem com poucas armas, isto é, Euclides da Cunha à parte, nosso fôlego literário é curto. Não há nenhum demérito nisso. Se a América Latina fornece caudalosos escritores, como Vargas Llosa, Roa Bastos e Alejo Carpentier, nós, por outro lado, somos excelentes no pinga-pinga do conto: o próprio Machado de Assis, Lima Barreto, Al cântara Machado, Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Rubem Fonseca.
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Segundo lugar, porque nós temos consciência da extraordinária violência com que o tempo vai levando as coisas e as gentes, daí a necessidade de registrar, de alguma forma, o que se passou e passa no âmbito pessoal e intransferível. Terceiro lugar, em consequência disso que acabei de falar: somos muito pessoais, vemos e vivemos muito a nossa vida e a celebramos quase que no próprio instante em que ela se passa. A crônica é a nossa autobustificação, por assim dizer. Ou, em termos da realidade atual: é a nossa autonomeação para assessor disso ou secretário daquilo outro.
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E em quarto e último lugar: dinheiro. Não há motivo nenhum para se ficar encabulado. Quem não escreve por dinheiro não é digno da profissão. Um romance vende cinco mil exemplares e o autor, com alguma sorte, pega o equivalente a uns tantos salários mínimos. Se dividirmos tempo gasto no trabalho e na vida de estante do livro, vai dar nisso mesmo: salário mínimo.
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O cronista, por outro lado, mesmo mal pago — e quando é bom não é esse o caso —, tem uns cobres garantidos no fim do mês, se o empregador for bom pagador. Consequentemente: aí está, viva e atuante, a crônica do cronista brasileiro. Pouco importa que o cronista ou a cronista limite-se a relatar seu encontro no bar ou sua ida ao cabeleireiro. Tanto faz que seja elitista ou literariamente limitador.
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E daí que tenha menos profundidade que mergulhadores mais audazes como Milan Kundera e Marion Zimmer Bradley? A crônica vai registrando, o cronista vai falando sozinho diante de todo mundo.
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............................ ( Ivan Lessa)
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O Cronista é um Escritor Crônico

O primeiro texto que publiquei em jornal foi uma crônica. Devia ter eu lá uns 16 ou 17 anos. E aí fui tomando gosto. Dos jornais de Juiz de Fora, passei para os jornais e revistas de Belo Horizonte e depois para a imprensa do Rio e São Paulo. Fiz de tudo (ou quase tudo) em jornal: de repórter policial a crítico literário. Mas foi somente quando me chamaram para substituir Drummond no Jornal do Brasil, em 1984, que passei a fazer crônica sistematicamente. Virei um escritor crônico..
O que é um cronista?
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Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como uma galinha, bota seu ovo regularmente. Carlos Eduardo Novaes diz que crônica
 s são como laranjas, podem ser doces ou azedas e ser consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa ou espremidas na sala de aula.
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Já andei dizendo que o cronista é um estilita. Não confundam, por enquanto, com estilista. Estilita era o santo que ficava anos e anos em cima de uma coluna, no deserto, meditando e pregando. São Simeão passou trinta anos assim, exposto ao sol e à chuva. Claro que de tanto purificar seu estilo diariamente o cronista estilita acaba virando um estilista.
.O cronista é isso: fica pregando lá em cima de sua coluna no jornal. Por isto, há uma certa confusão entre colunista e cronista, assim como há outra confusão entre articulista e cronista. O articulista escreve textos expositivos e defende temas e ideias. O cronista é o mais livre dos redatores de um jornal. Ele pode ser subjetivo. Pode (e deve) falar na primeira pessoa sem envergonhar-se. Seu "eu", como o do poeta, é um eu de utilidade pública.
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Que tipo de crônica escrevo? De vários tipos. Conto casos, faço descrições, anoto momentos líricos, faço críticas sociais. Uma das funções da crônica é interferir no cotidiano. Claro que essas que interferem mais cruamente em assuntos momentosos tendem a perder sua atualidade quando publicadas em livro. Não tem importância. O cronista é crônico, ligado ao tempo, deve estar encharcado, doente de seu tempo e ao mesmo tempo pairar acima dele.
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...................(Affonso Romano de Sant'Anna)
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CRÔNICA

A crônica é uma forma de narrativa descontraída, lembrando bastante a linguagem dos jornais. Em geral ela conta ou narra situações do dia-a-dia, fatos corriqueiros e até mesmo banais – o que não quer dizer que não esteja interessada nos temas relativos à condição humana: amor, morte, solidão, sonho, incomunicação, descoberta e busca do sentido da vida e outras revelações.
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Esse gênero textual, qu
 ase sempre, vem escrito em linguagem coloquial bem próxima da conversa informal e, com esse tom de coisa sem importância, casa-se muito bem com a poesia e o humor. Ao narrar, inserem em seu texto trechos de diálogos, recheados com expressões cotidianas. Assim, uma forte característica do gênero é ter uma linguagem que mescla aspectos da escrita com a oralidade.
Por isso, a publicação desse gênero também ocorre em meios diversificados: livros, TV, rádio e internet. Ler ou escutar bons cronistas como Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Marcos Rey, Stanislaw Ponte Preta, Arnaldo Jabor, Jô Soares e outros contribuirá bastante para que você aprenda mais e escreva melhor. 

.Em uma crônica, deve-se escolher o foco narrativo, ângulo por meio do qual o narrador conta a história. Foco narrativo em primeira pessoa – a história é narrada por um personagem que participa dos acontecimentos, observando, sentindo, vivendo a experiência narrada. Foco narrativo em terceira pessoa – a história é contada do ângulo de um narrador que não participa dos acontecimentos, apenas observa, reflete e mostra, de forma distanciada, a experiência vivida pelo(s) personagem(ns).
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Todos os estilos de crônica, porém, acabam por encaixar-se em três grandes grupos: as poéticas, as humorísticas e as que se aproximam dos ensaios. Estas últimas têm tom mais sério e analisam fatos políticos, sociais ou econômicos de grande importância cultural.
........................... (Geraldo Canuto)
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disponível em http://generostextuais2010.blogspot.com.br/